Nos arredores do meu antigo bairro

Nos arredores do meu antigo bairro

há vastidões e pedras e destroços

e é sempre em almas densas que eu esbarro,

arcabouços de sofismas e ossos.

Meu ser procura a si e a sua sina,

lá onde a lua investe a sua luz,

e vai se achar no boteco da esquina

bêbado em meio a outros ébrios nus.

Os carros se atropelam na passagem,

tal uma goela que ao mundo devora,

e eu vejo Heráclito ali, sem bagagem,

seguindo o rio da vida vida afora.

Só sei que somos todos naus errantes

numa infinita e mística odisséia

e os mares que nos cercam, trovejantes,

são nossa própria senda além da idéia.

Depois de tudo deito no quintal

pra receber a unção que me apazigua

e fico lá feito um antigo animal

que traz o universo na barriga.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 31/03/2017
Código do texto: T5957179
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