O TEMPO
O tempo bateu à minha porta.
Fui abrir, e nada havia do lado de fora.
Por um instante refleti.
Quando dei por mim não entendi
Se ele entrou ou se foi embora.
Apenas senti
Que ele passou por sobre mim,
Por entre mim, ou coisa assim,
Preenchendo todo o espaço,
Quarto, sala, cozinha e terraço.
Deitou-se na minha cama,
Mas não quis ficar.
Sentou-se à minha mesa
E nem esperou o jantar.
No banheiro não demorou.
No espelho, nem sequer olhou.
Passou pela biblioteca,
Abriu-me os livros mais raros,
Daqueles que a gente guarda
A sete chaves e cadeado.
Ainda ouviu na discoteca
Minhas canções de outrora,
Dessas que tocam o coração da gente.
Tantos sonhos, quantas histórias.
E num livro de poesias, desfez-se,
De repente, não mais que de repente.
Depois saiu pela varanda,
Como se nada tivesse acontecido,
Como se fosse possível viver
A eternidade num momento:
O que virá e o que foi vivido,
O que se lembra e o que é esquecido.
Não sei quanto tempo fiquei a pensar
Se era real, se era loucura,
Ou apenas imaginação.
O tempo que entrou
Não é o mesmo que saiu,
Não é o mesmo que ficou.