Purgatório

Cá me encontro, ponto incontínuo

O agora, ó horror dos horrores!

Ó terrível linha da inexistência!

Pois que sempre me diziam:

- O mundo gira

- O tempo não para

Então o que me contém:

- Um lugar?

- Um momento?

A ambos pertenço,

Querem fazer-me crer.

A mais dimensões ainda

Por vezes, preso me imagino

Afinal, eu sou?

Afinal, eu estou?

E neste mórbido pesar

Para que tanto luxo filosófico?

E nestas horas tão negras

Por que consciência?

Tão mais doce seria a vida

Sem tanta vergonha,

Sem tantas indagações

E nesta estase de negrumes

Febre, dor, degradação

Tudo se desmancha,

No limbo somente, esbarro

Restando-me as brumas do exílio,

Contemplo a humana trajetória

Concebendo sagrados totens e rituais

Como fuga da própria insignificância

A dança do eterno voltar

Numa espiral que materializa

A ausência do próprio tempo

E, enfim constato:

Já não repousa minha paz

No curto e harmonioso

Sono dos cachalotes

Isaque
Enviado por Isaque em 15/07/2017
Reeditado em 16/07/2017
Código do texto: T6055183
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