Desmundo
Trago em mim uma revolta que não é só minha...
Vem da fome, das ausências e das favelas,
Vem dos açoites, dos quilombos e das senzalas,
Vem dos abortos secretos das donzelas.
Trago em mim uma revolta que não é só minha...
Vem dos meninos, no frio das madrugadas,
Vem da mãe à espera do filho, em vão,
Vem das ruas e dos pedintes nas calçadas.
Trago em mim uma revolta que não é só minha...
Vem das meretrizes, das cicatrizes e da exclusão,
Vem dos gritos emudecidos dos jovens dizimados,
Vem da criança, da desesperança e da omissão.