epiphania

emaranhei me no arado

e era tarde pra ver seu rosto

numa cornucópia de tropeços

amarrei meu burro, e fiquei.

nem soslaio, nem solavanco

puderam me desempacar,

pétreo, diante do inacreditável

semicerrei meus olhos.

longe de ver o poente eterno

escutei sirenes, de tempestades

na borrasca enlameei-me atônito

numa tonitroante balbúrdia inesperada.

nem quimeras, nem pirâmides

me trouxeram o pouco juízo

findei-me mouco, surdo e leso

em meio ao nada e afogado.

desperto em meio a fúria

de ter me perdido em sonhos,

para desperto me ver deserto

em frente a monstros de cimento.