Essência invisível

Num país de visões míopes,

somos todos cegos por escolha,

sorrindo para vazios desenhados,

deixando a paixão matar o amor,

o ódio vencer o perdão,

o silêncio sobrepujar a trova,

a amargura se instalar como prece,

todas as noites clamando por mágicas,

quando deveríamos ser milagres alheios,

fazer do bem um instrumento,

levar consolo a quem precisa,

secar as lágrimas de quem chora,

ajudar a andar quem engatinha,

mas nos perdemos em labirintos,

construções que encarceram,

representações do que não somos,

cegos que nos mantemos,

sentimos a aparência em nossos corações,

valorizamos uma estética forjada,

mentiras dramatizadas no palco de ilusões,

tateamos como tolos uma felicidade irreal,

quando a essência é invisível aos olhos,

perceptível que é apenas pelos sentidos,

que deixamos para trás há dez vidas...

O que nos vai no interior,

é o que nos expressa,

as verdades ocultas,

os perdões sufocados,

a beleza não-dita,

tocada apenas pela alma,

de olhos fechados,

sorvendo uma melodia,

no acústico de um violão,

que explica a vida num dedilhar,

palavras de uma poesia viva,

resolução de uma sensibilidade ímpar,

sem julgamentos, sem gênero,

sem cores, sem preconceitos,

especialmente configurada,

mais do que podemos dar,

mais do que podemos receber,

mais do que podemos compreender,

mais do que podemos ser,

fúteis que somos em nossa procura vã,

reificando a casca que não nos revela,

quando só devíamos deixar fluir,

deixar correr a luz que nos habita,

libertar as estrelas que aprisionamos,

enxergar o outro em seu brilho,

amar a força que emana de seus poros,

os prós que derrubam todos os contras,

regozijo ao nosso espírito de sonhadores...