O mal remendado e o roto

Cada qual com as suas necessidades.

Enquanto um dependia de agulha e linha,

o outro precisava de um ferro de passar,

mas eram orgulhosos demais para admitir.

Um tinha o que outro precisava,

mas mesmo que não tivessem,

com boa vontade, conseguiriam.

Agiam pela manutenção da lei humana da não dependência,

mas posso muito bem, não necessariamente,

estar falando de um homem e de uma mulher

ou de uma mulher e de um homem.

O universo não tem sexo

e nem a poesia, também, tem que ter todo esse nexo.

Tudo é muito mais complexo.

O caso é que não estavam assim tão felizes

e nem me proponho a dizer que estivessem infelizes,

viviam bem, cada um no seu canto,

pois, se precisavam de socorro

e ela fosse Maria do Socorro,

socorreria.

E se ele se chamasse João

e se não tivesse nenhum pão,

mesmo não sendo pão do que ela necessitava,

arrumaria.

Havia a necessidade de uma parceria,

mas nem um e nem o outro cedia

e quem só observava percebia,

que João precisava da agulha da suposta Maria

e com as roupas amarrotadas insistia,

o aqui considerado João,

mas que agonia essa relação (!)

e nem mesmo perdão caberia,

pois um do outro, fingiam que não sabiam.

Cada qual com as suas possibilidades,

até que se mudaram de cidade

e um continuou mal remendado,

enquanto o outro continuou roto,

isso porque, se considerando auto suficientes demais,

não percebiam que na realidade era de carência que sofriam,

mas insistiam em não admitir,

que o problema não estava na agulha e linha

e nem, tão pouco, no ferro de passar.

Amar,

é sobretudo, compartilhar.