POR ACASO

Certas coisas vivem à margem do que vivemos,

nem sabem de nossa existência,

sabem mais do que saber podemos,

são a própria mágica e ciência...

A flor, ao desabrochar,

se despede do casulo e reflete o luar,

o sapo coaxa e acha graça da lagoa parada

quando esta rebola a superfície estagnada...

A joaninha, sem mapa de voo programado,

vasculha o ar com seu faro de inseto,

voa por voar, num dia ensolarado,

sem nenhum predador por perto...

O homem, a rezar a sua missa,

nem sabe que Deus está com preguiça,

com os tacos que um anjo trouxe

foi aos campos de nuvens jogar golfe...

Alguém nasce, alguém morreu,

alguém nascerá, alguém morrerá,

o acaso que por acaso o acaso nos deu

diz que certas coisas não tem como controlar...

Estamos por conta de acontecimentos fortuitos,

nem sabemos onde começa e onde acaba o destino,

centelhas somos, espalhadas no cosmos, no infinito,

somos tão antigos ao hoje e ao passado tão meninos...