Diários de um imortal

Então você acha que entende da vida,

Quando tudo isso foi apenas alguns dias.

Você acha que essa coisa de sentido

Não passa de uma pura mania

(Meras falhas tentativas),

De tentar desacreditar que se está perdido?

Você ficou na defensiva esse tempo todo.

Você nem abriu a porta, e encarou os feixes por uma aresta.

Então achou ter visto o sol em sua magnitude,

Você pensou que era a máxima altitude,

E saiu acreditando que a verdade era essa.

Mas eu sou imortal,

Carrego o peso dos milênios nas minhas costas.

E não há nada que eu ache mais normal

Que ver um ingênuo pregando tal resposta.

Eu conheço essa segurança.

Eu já passei por esse vale.

Eu já dancei essa dança,

Pois fui o primeiro, minha criança,

A achar que sabe.

Eu também já fiz esse gesto;

Meu bem, já decorei esse caminho, metro por metro.

Os sentimentos realmente não mudam...

Eles só se reformulam.

E eu posso te ler como um simples soneto do jardim de infância;

Pois você só é lembrança.

Eu já amei mais do que o necessário,

Até o próprio amor me parecer um perigo.

Já passei tantas vezes pelo vale do ódio, solitário.

Já passei algumas eternidades aborrecido.

Eu pulei de tudo quanto é tipo de ponte,

Joguei-me de todo tipo de prédio.

E se tem algo que em mim não se esconde,

Esta coisa sempre foi o tédio.

Já vi o nublar da insanidade

Aparecendo no céu da minha mente após um dia tão clareado.

E já vi nesses mesmos tempos o sol vindo em resgate

Após a forte chuva, após mais um milênio trovoado.

Mas o que são mil anos

Para alguém que existe desde os primeiros humanos,

Caminhando na terra, no fardo da infinitude,

Aparecendo e sumindo entre tantos?

Então agora vamos falar de sentido,

Porque esse papo que tá contigo

Eu já disse, eu já acreditei, eu já fui bem fiel.

Porque eu já tive os mesmos sentimentos.

Posso te decifrar inteiro com o seu pequeno olhar.

Já passei pelos mesmos tons, os mesmos momentos.

Esses pensamentos que lhe passam, já me cansaram de passar.

Guarde uma coisa, meu nobre amigo:

O sentido começa com você e contigo.

Ele dá partida na boca dos sábios,

E termina no seu próprio juízo.