O AMOR AINDA NÃO FOI TOMBADO
O amor é um bem imaterial que ainda não foi tombado...
Com ele criou-se raças, dizimou-se Estados,
pôs um Deus a bailar no céu,
fez anjos descerem em carruagens de plástico
nos sonhos de meninos e meninas,
abriu-se o ovo da imaginação
com o sabre dos artistas,
inventou-se o dois depois do um,
adaptou a morte do consorte
a um viés da sorte...
Ainda não tombado, não existe...
Criou a sensação do dedo em riste
diante do olhar perdido da amante,
trouxe à tona as mazelas da convivência,
mostrou ao homem a necessidade da ciência,
expôs ao ridículo o herói dos quadrinhos,
o amor, esse ser com vida própria,
mostrou o quão perigoso é o caminho
que se deve trilhar em busca de união,
depois de aberta a garrafa é o vinho
da felicidade ou da separação...
Hoje, mais que ontem e mais ainda que amanhã,
sofrerá as agruras diante do momento nada heroico
por que passa a humanidade, a falta de juízes com juízo,
o sobrecarregamento por excesso de vaidade e posse,
o desvio de seus componentes na rodovia dos sonhos,
e, mais ainda, a insanidade já se torna material didático
a poetas e professores de psicologia e supostas religiões,
o que faz com que o amor se torne apenas uma palavra
dita em momentos em que se oculta a maldade sob a capa
difusa que usa o espécime desta raça condenada
a amar e sofrer mesmo que não saiba o que isso significa...