Liberdade

Em meu quintal, plantei um jardim

Com árvores, flores e muitas frutas

Para atrair aves felizes e argutas

No intento de que alguma fique aqui

Embora da terra eu tanto cuidasse

Bem como das plantas, com carinho

Era pouca a estadia de passarinho

Que por temporadas cheias abrigasse

Alguns passavam, bem interessados

Pegavam tudo o que precisavam

Por pouco tempo me alegravam

Mas logo embora se iam, assoberbados

Não obstante, por noites sem luar

Morcegos invadiam, e saqueavam

Ratos pulavam, e mordiscavam

Sem eu muito fazer, para afugentar

Por mais que as estações se revezassem

Outono e inverno, primavera e verão

A tristeza eu afastava de minha ambição

Esperando que pássaros me visitassem

Até que uma ave de beleza inaudita

Se sentiu atraída pelo fragor das flores

Deleitou-se em frutos coloridos e doces

E encheu de ternura a minha vida

Por muito e muito tempo ela ficou

Ia e vinha, brincando pelo jardim

Correndo e voando, cantando pra mim

E o meu cotidiano tanto alegrou

Até que num dia carrancudo e nublado

Ela partiu, num ímpeto inexplicável

Segundo espírito de bicho indomável

Tornando o jardim, de novo, inutilizado

Transtornado, procurando reconquistar

Poda, replantio, semeadura e dedicação

Reforcei no jardim das delícias a tentação

Que seduzisse aquela ave, a retornar

E, depois de meses e meses de demora

Observando o ganho de influxo ao quintal

Mais aves, morcegos e ratos vieram a tal

Até que ela ressurgiu, bela e caprichosa

E noutras mais vezes foi assim a realidade

De idas e vindas, saudade e deleitação

E entendi: não importa minha aspiração

Pois de voltar o ato é dela, completa liberdade

Eudes de Pádua Colodino
Enviado por Eudes de Pádua Colodino em 02/04/2018
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