Viajante do tempo
Sou um viajante do tempo:
Um pé no futuro e outro no passado.
Acompanhei tanto a minha morte quanto meu nascimento,
E desde então venho repetindo o mesmo ato.
Vai vindo os dias
Em suas pequenas fatias,
Carregando um pouco do meu futuro.
E, por vez, o amanhã vem vindo
Sem abrir espaço ou caminho
De conceder ao passado o devido luto.
Não sinto angústia no que faço;
Meu coração é patrimônio do passado.
Mas me preocupo com o que pode haver
Antes mesmo de acontecer,
Pois minha mente vive num futuro desacertado.
É pensando em outrora
Que esqueço da hora,
De tal forma esqueço o futuro.
Pensar no que poderia ser feito,
Idealizar um amanhã de deleito
Sem saber se será realmente isso tudo.
E é nessa insegurança que se cria
Uma misteriosa energia
Que me lança à prisão na minha mente.
E ali rumino tudo o que me tirou alegria,
E logo me pego nessa mania
Pensando em como seria diferente.
Eu sou um viajante do tempo,
Escravizado pelo meu passado e futuro.
Esqueço-me de todo atual momento
Esperando um amanhã, inseguro.
E quanto ao porquê eu esqueço a hora,
É porque dela eu já não lembro.
Desconheço o que realmente é real, o aqui e o agora.
Eu troco tudo por uma máquina do tempo.
E é com um pé no passado e outro no futuro
Que esqueci que não estava vivendo.
E agora vou procurando aceitar só seguir o meu curso
Em meio ao espaço-tempo.