Em tempos de escassez

Hoje

Mais do que nunca

Todas as palavras

Me soam tão erradas

Que mal consigo conduzir uma frase qualquer

Que dirá bem expressar

O que me entala a garganta

Eu só queria gritar

Gritar bem alto

Pra ver

Se o que faz doer por dentro

É capaz de se esvair

Junto com o ar

Dos meus pulmões

E o que toca a pele

Nem arranha a superfície

E é tão morno

Que até me dói o estômago

Confesso que

Me acostumei mal

A não ter de segurar

Minha onda de exageros

E talvez

De tanto transbordar

Tenha mesmo

É esvaziado de vez