Só o sofrimento traz à tona: despindo o véu da pele
Anseios
Cravados e rasgados,
Meninos devem ter seios?
Quais ensinamentos devem ser em conta levados?
Talvez isso não seja algo de suma importância
Há meninas encarnadas em corpos masculinos,
Lutando quanto tudo que é dúvida
Se fala tanto em discrepância
Em relevância
Tudo bem o passado isso condena,
Desatinos
E dogmas, tabus
E há quem o diga que existem para em seu tempo certo serem abolidos e quebrados...
Luzidas
São as paredes do amor
Ou melhor me expressando – são claras –
São raras
As demonstrações verdadeiras
Que expõem fraquezas, que caem e levantem-se para serem recolhidas
a quem as queira
Falas
Existe um amor que envolva pudor?
Laras
A fome e a sede que anseiam um primeiro beijo
Tão costumeiras e rotineiras
A qualquer ser humano
Um eixo
Que quebrado e assassino foi réu foragido
Por anos.
De um espelho, uma chance a si mesmo e a si mesma,
Vera em teu próprio semblante, traços de teu pai e tua mãe
Semelhante, tão rente e nunca distante
As vezes os verá repugnantes como uma lesma
Mas não se acanhe
Tenha orgulha de ser o que é
Criatura
Homem, menino e mulher.
A sociedade condena o homem que se veste de mulher,
E condena a mulher que cada vez mais, em doses de hormônio
Tenta ser o oposto
Mas quem poderia-lhê dissuadir
De algo que em seu âmago: nunca foi verdade
E a outros foi sempre uma mentira?
Você atiraria em seu filho, se um dia o pegasse se maquiando?
Ou deserdaria sua filha, se de mão entrelaçados a outra menina a visse chegando?
Então não és pai ou mãe
É criança assustada, com os comentários alheios
Não és bravo
Ou corajosa, como o cerne que um dia disse tu disses perante o nascer que ia ser.
Desculpe a mim, se estou sendo grosseiro
Mas se teu anjo não morrer por tua mão
Certamente será por outra
E aí eu lhe pergunto: achas que não terá o dedo no gatilho?
Certamente posso ser petulante entre esses versos
Que os verso, mas saiba
Que se um dia for pai, não me importarás se meu filho a mim diga:
“Hoje eu quero uma boneca, e vou ser uma princesa”
Que importância isso faz?
Passará ódio
Entretanto o que dirás a ao chegar ao pódio,
Nada
Apenas pensará, ou se ousar
Eu falhei.
Lembro-me claramente como se fosse ontem,
Quando foi anunciada, a “cura gay”
Hey!
Agora grito
Usas a um livro sagrado como arma
E achasse cristão temente a Deus?
Até onde sei,
Nunca em orações mais avidas e fervorosas escutei:
“Tu serás condenado”
E se acaso fosse
Não faria diferença,
Pois tenho minha cultura, espiritualidade e autônoma crença.
Falas de olho por olho e dente por dente,
Acaso essa Lei não foi quebrada e renovada, pelo sangue do cordeiro?
Usa de teu artificio de isentar-se de culpa e carrega sua proteção em um crucifixo?
E se um dia sua vida depender de uma ligação
E do outro lado do fixo
Estiver um transexual?
Talvez ele salve sua vida.
Talvez possa não saber,
Mas se tentar impor teu jugo usando por medida valores
Coloque-os na balança, veja a conta dessa cobrança.
E se te disser que Shakespeare louvado e aclamado
Preferia relacionar-se com outro homem
Seria para ti um choque?
Que cura é essa para o que não é doença?
Isso é alienação de tua crença
Não digo religião
Pois até mesmo que não tem, possuí fé
Fique em pé
E receba o golpe da vida.
A esse ponto me acharás e repudiarás meu nome,
Dizendo: “és apenas um libertino”,
Direi em resposta, sou uma poetisa
A contradizer sua acusação
Mesmo que eu leia Olavo Bilac, Vinicius de Moraes ou Manoel Bandeira
Tenho orgulho de dizer minha formação foi fortemente tocada por Cecilia Meirelles
Uma mulher.
És um marginal e vagabundo,
Talvez eu seja, assim tão sujo quanto o mundo
Ou tão lúcido como um louco que foi acorrentado
Por gritar verdades,
E acabei quebrando o espelho
O atravessei
E do outro lado vi a mim distorcido
Retorcido e contorcido
Então deram-me alta e liberdade
Mas isso não indica que foi culpado ou inocente
Isso foi apenas uma sentença que a lei dos homens me deu.
Usar brinco ou adornos, pode fazer de mim menos masculino
Ou haja quem diga, sem hombridade e virilidade.
Beijo homens quando tenho vontade e mulheres quando me sinto fisgado
Prefiro ser quem sou,
Bissexual.
Posso ter um orgulho rasgado
Um ponto cego de vaidade
No entanto não sou inquilino
Da verdade cultural e pessoal que me formou
Sou assim tu és
Uma aclamação informal.
Se não me aceita,
Não é por isso que irei cuspir em sua cara,
Ou se me rejeita
O seu conceito tem formação clara.
Mas se marcará algo ou se veste a fantasia,
Então epitáfio
Ou epifania
Não importa
A cada época uma verdade se renova e se reavalia.
Um Aurélio a cada ano,
Para compor o que vem do noticiário,
Deixe que venham:
O puritano
Que em tempos de guerra, torna-se mais um incendiário.