No fundo do poço
Chegaste ao fundo do poço?
Ajoelha-te e aproveita para refletir
Mas não te entregues, se velho ou moço,
Ao que não sabes que está por vir.
Não capitules também ao passado
Porque este o próprio tempo já sepultou.
Olha para teu interior dilacerado
Erguendo a face ao céu, que te iluminou.
Não busques por quem te deu o empurrão
Pois talvez não tenhas um espelho.
Olha ao alto para quem te estende a mão
E aceita o que lhe propõe como conselho.
Se no fundo do poço quiseres ficar
Podes escavá-lo e esconder-te da Luz
Ou sobre ti pode deixá-lo desmoronar
Mas não fugirás à vida que te conduz.
Porém, se te deixaste cair à terra fria,
Não te soterres na tua depressão;
És luz, oriunda de quem tudo cria,
E não te cabem as trevas da solidão.
Abre, pois, as tuas asas angelicais
E levanta voo rumo à felicidade
Sem te importares com lágrimas e ais
Que não possam resultar em tua liberdade.
Não! Isso não é egoísmo mesquinho
Ninguém cresce se for de tudo protegido
Recolha apenas o que deixaste no caminho
O que é do outro, ao outro seja dirigido.
Queres amar? Ama-te primeiro
Ajuda-te, se queres a outro ajudar
O chão não é o plano derradeiro
E não é lá o teu real lugar.
Cícero – 27-06-2018