A dor de ser vivo II

O amanhã é novidade...

O amor é renovável...

A dor um sofrimento...

A morte uma certeza.

As rugas do dia-a-dia

se derramam pela face do velho

que já conta o tempo que ainda lhe cabe...

Novidades já não o assustam

e ele próprio se esparrama pela sala,

numa espreguiçadeira de vime,

revolvendo o passado, nas prateleiras das horas,

realçando seu dia em lembranças vivas

de um momento que ainda reverbera

em seu eu essencial...

O tempo pinga segundo a segundo

na conta do velho que já nem nota

a vida passar, pois já passou por ele...

O que resta é uma saudade dolorida...

Ele espera apenas o desfecho...

Fica horas viajando pelos caminhos que andou,

Renova juras de amor, que deixou pelos caminhos...

Refaz tratos com amores que não vingaram,

Renova dores sufocadas no passado...

Reconstrói castelos de areia

que naufragaram em mares agitados de dores e desejos ...

Enquanto o velho repassa o tempo que se foi

os contos de sua viagem maceram o coração

por demais abalado pela dor de ser vivo...