Reflexões IV

Milhões de faíscas sagradas

Centelhas de anjos e demônios

E nisto tudo um respingo do amor

Enquanto lobos vociferam em trevas

O pesadelo se mostra uma luz

Dentre tantas vozes

Dentre miríades de névoas e assombrações

Na derradeira promessa do cosmos

Na apoteose de musas nuas e más

Surge o apogeo do individual santo

Individualismo de cegas lembranças

Aí está a horrenda verdade humana

Enquanto dezenas de poesias criadas

Na solidão dos pormenores ocultos

Onde Satã é alcoólatra das razões

Onde tudo é sagrado na boca mentirosa

Perdidos somos em cinzas céus

Quando vai acontecer nossa salvação?

No porvir de tolas fábulas de mendigos

Somos o Hércules fraco e ferido

Eva de beleza crua e morta em si mesma

Corre os justos para um abrigo de fogo

Na foligem de idiotas do sistema

Queira o cosmos dizer ais e mais ais

Anjos não sabem voar sozinhos

Pavio de fogo em uma neblina sonhadora

Eu que estou morto nas lembranças

Gritando e chorando muito com medo

No precipício fascista e satânico

Com os olhos mirando ventanias

Com a cabeça coroada de poeira

Com o corpo fadigado da vagabundagem

Em um horizonte torpe e malévolo

Bruxas comem minhas carnes

O meu fígado é posto numa balança

Deuses medem minhas mentiras nuas

E sôfregos cães latem e morrem

É o pesadelo do Sol escuro e mal

São estrelas que reluzem sangue

É uma virgem dormindo para sempre

No castigo de fogo uma maldição

Quebrado está o braço pra levantar

Quimera de auspiciosa danação

Na eventualidade dos solitários

Onde um fogo e um rogo clama ardentemente

Na imbecilidade das venturas

Na infelicidade de poesia das drogas

Quando o silêncio domina os arroubos

Dentre canções de segredo e veneno

No monstrengo do quarto escuro

Diz de já ó Hermes da dúvida mística

Entra nos portões da mentalidade

E faz tua habitação no Paraíso

Desbrava a vida na amargura das coisas

Desnuda tua pergunta traiçoeira

E quebra a áspide de fogo e lama

Quando tudo findar faz vômitos

Embriaga tua verdade no vinho

E quebranta tua tristeza em meio à anjos

Pois tua agonia terá um fim

Tua amargura será unilateral

Tua demência será a nova profecia

E muitos gafanhotos governarão o mundo

Tende o tudo na palma do destino

Voa ó poesia para os redutos do inferno

E vocifera as canções do germe íntimo

Pois na cabeça os rios são mares

E tua sagrada eventualidade será dinâmica

Aguarda o desabrochar das rosas

Come o néctar das camélias murchas

E fica na espreita do florescer mortífero

És a planta dos deuses

Cultivada na intenção dos tolos

E amassa os ditames da loucura

E faz da sombra uma mansão de duendes

Ó medo parvo de ingrato pensamento

Intenebrido nas paixões da juventude

Cria o tempo nas labaredas do amor

E assassina as flores da incredulidade

E verás que o medo é um sonho

Vivendo bem pertinho da solidão

Ó poeta morrerás na aurora insana

E perdido andarás no cume mais vazio

Donde muitos se perderam na fantasia

E hoje o destino enseja dívidas de carinho

Sou tudo menos o poeta de felicidades

Ó letras da flagelação

Ó letras da submissão

Ó palavras de deuses zombadores

De anjos nus e sem asas à sua beleza

Defuntos sonhos de paixão cega

Onde tudo finda o amor

Donde tudo termina dor e não dores

Onde o segredo mata os sentimentos

Onde tudo finda e calados ficamos

Onde tudo finda o desamor

Onde tudo finda...

...E nunca mais sós seremos.