ASNO SEM DONO

O que mais me atormenta,

não são tantas insuportáveis mensagens banais,

que recebo a cada segundo, dizendo que preciso ser forte,

que a vida me ama, que o mundo é perfeito, que o homem sem Deus

é como um asno sem dono! Em meio a essa sínica

inconveniência desmedida de tudo.

O que mais me atormenta,

não são tantos frutos infecundos apodrecidos na Terra,

no escuro jogo negro da vida. Pobres Meninos! Navegadores sem rumo,dormindo em berço esplendido de muitos relentos, carinhosamente abraçados por braços desumanos da fome. Olhar escondido que o homem não vê. Desejo de tudo, sem nada poder.

O que mais me atormenta,

É essa cotidiana crescente bestialidade cartesiano do mundo,

que não cessa! Que carrego em segredo, que levo oculta, que escondo no peito; que sob o efeito da Lua Cheia, em noite de Lobisomem, como todos vocês, se transforma em monstro! Em Silvério dos Reis. Em assassino de contos. Uiva o uivo noturno de supostos impostores intelectuais, aconselhando do alto do vídeo,

o que eles não sabem, mas o que todos devem fazer.

O que mais me atormenta,

é essa cretinice sem fronteira aparente.

Esse riso de nada sincronizado que globaliza meus dentes,

que tira a cada instante, sem surpresa, mais e mais ridículas selfs de pratos fartos sobre a mesa, depois olha de longe, sobre a fissura do muro, com grande desprezo, no silencioso sereno noturno,

navegadores sem rumo, de mão dadas com a fome,

fingindo não vê.

Jaíres Rocha
Enviado por Jaíres Rocha em 31/07/2018
Reeditado em 14/12/2018
Código do texto: T6405852
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