DA INFÂNCIA ATÉ HOJE
Ele nasceu num lar estável,
teve todos os privilégios,
estudou no particular,
curtiu muito o bom colégio
e se formou em medicina na federal;
agradeceu,
por saber que não fez nada sozinho.
Reconheceu,
o alívio em seu caminho...
Simplicidade!
Ele nasceu num lar difícil,
não teve quase nada do que precisava,
venceu obstáculos da cultura pobre e pública,
deixando seu lar enfrentando repúblicas
logrou sua vitória na universidade
e hoje foi reconhecido o melhor médico da cidade.
Simplicidade!
Ele chegou chorando,
foi abusado no beco da periferia,
enfrentou os traumas e dilemas
com todos sabendo sobre sua dor;
precisou confrontar preconceitos
evitar o rancor...
mas quem poderia ajuda-lo
nesta tamanha fatalidade?
Fragilidade!
Ela cresceu
no bairro mais pomposo da cidade,
pelo agir sem pudor,
desconsiderando a idade:
foi abusada pela família.
Nunca chorou para os pais,
restabeleceu seus ideais;
frequentou psicólogos,
mesmo sem saber seus dilemas.
Estatística da atualidade?
Fragilidade!
Eles nasceram num estado nordestino
com o maior índice de trafico infantil;
se desconsidera o parto, ainda mais o destino!?
Cresceram sem família num abrigo para crianças,
envelhecendo sonhos, desconsiderando a infância;
dividiram expectativas, e cuidaram um do outro:
se fizeram forte no conjunto e venceram a falência.
Dependência!
Ela sofreu rejeição e correu risco de aborto,
num mundo que fecha os olhos, seria só mais um morto...
seus pais que justificavam acidente da adolescência;
e se diziam vítimas da falta de dinheiro:
permitiram a adoção por um casal aventureiro;
que destino, oh consciência!
Dependência!
Ele frequentou a gloriosa escolinha,
encheu os olhos de muitos como jogador de linha;
era a expectativa do futuro famoso da família,
não sabe se por medo ou por sobriedade:
decidiu ser militar, alterou a realidade.
Sinceridade!
Ele jogou nos terrões e calcadas,
fez golzinho com chinelos;
pulava a roleta do busão amarelo.
Nuca ligou pro arranhão,
perdeu as tampas do dedão;
foi caçado pelos olheiros,
era diferente,
escolheu ser jogador,
se tornou independente
encantou o mundo e a posteridade.
Sinceridade!
Ela queria comprar balas,
com o que estava na carteira;
mas pelos pais orientada,
aceitou a outra maneira;
que orgulho viu o dono
do objeto esquecido,
no sorriso de alegria,
da pura filha do amigo.
Ele foi trapaceado
pelo suspeito melhor amigo;
viu encher os olhos d`água
no momento decisivo;
que terrível traição,
que lição avassaladora:
num abraço de pureza,
na amizade reconciliadora.
Como é bom ser criança,
que lembranças, que lembranças!
Mas quem soube ser criança?
Que esperança, esperança!
Pois só entendeu quem foi,
depois que superou o título,
só notou sobre a infância,
quando deixou o pueril;
porém no homem que tu és;
ainda podem ver as marcas:
definido no presente
o que o passado construiu.