QUEM SOMOS “EU”

Eu sou o tudo, eu sou o nada

Eu sou a cruz, eu sou a espada

Eu sou a lágrima caída de uma mãe sofrida

que não cicatriza a ferida pela perda de um filho

Eu sou o mendigo que vive na rua e no inverno morre de frio

Eu sou o riso e sou a tristeza de um palhaço

Eu sou a terra que soterra o casebre no pé do morro

Eu sou o barraco de madeira destruído num incêndio

Eu sou o ódio, eu sou o preconceito, eu sou a intolerância

Eu sou o machista, eu sou o homofóbico

Eu sou o xenofóbico, eu sou o racista

Eu sou o leite materno que alimenta a esperança

Eu sou o amor, eu sou a cumplicidade, eu sou a gratidão

Eu sou o negro, eu sou o homossexual, eu sou o igual, eu sou o imigrante

Eu sou o álcool, eu sou o crack, eu sou a cocaína

Eu sou o café, eu sou o chocolate

Eu sou o pedestre atropelado por um carro desgovernado

dirigido por um motorista bêbado

Eu sou o cachimbo que suga sua alma e a sua dignidade

Eu sou o pó que te leva ao pó com todo esse glamour de aparências

Eu sou o prazer e a dependência de sempre você me querer

Eu sou as crianças africanas escravizadas nas fazendas de cacau

Eu sou o sol, eu sou a lua, apareço de dia, apareço de noite

Muitas vezes me encontro comigo mesmo e me chamam de eclipse

Eu sou o arco-íris que colore o azul do céu

Eu sou a vida, eu sou a morte

Eu sou o azar, eu sou a sorte

Eu sou o mar, eu sou o vulcão

Eu sou o pecado, eu sou o perdão

Eu sou o oprimido, eu sou o opressor

Eu sou as mãos calejadas de um povo trabalhador

Eu sou o bem, eu sou o mal

Eu sou o princípio, eu sou o fim

Quantos desses “Eus” há em mim?

Quantos desses “Eus” há em você?

ALDEMIR LAURENTINO
Enviado por ALDEMIR LAURENTINO em 03/11/2018
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