De precipício o principal

Sempre tive medo voar

Pelo simples fato de temer a falha

Não confiava em minhas asas

Não gostava da cor de minhas plumas

Da textura, envergadura.

Fui ensinado a me calar,

Temer o céu.

Tinha medo de ser!

Assim construi minha gaiola,

Fomento de minha estática

Mas na prática anseiava a liberdade

O meu medo era da maldade do próximo

Que nunca exitou em depenar-me.

E quando me vi totalmente sem minha penas,

percebi o quando as amava

O quão lindas e macias eram elas

Então chorei!

E chorando questionei-me,

Choro por não ter minhas penas

E saber que não poderei mais voar...

Mas como sentir saudade do vôo que nunca fiz?!

Ou fiz?

Fiz! E como fiz!

A cada linha que escrevi, a cada vontade que supri,

A cada choro, a cada livro, a cada êxito

No íntimo

E cada cada letra que transcrevo

Brota uma pena,

Então sem consternar permito-me escrever

Cada dor, riso, medo, cada desejo

Trazendo minhas penas de volta!

E assim minha alma descobre sua liberdade

Ao dividir a escrita

Deixando de ser alma e se tornando poesia...

A receita está na ponta da caneta, na língua que se permite a fala

Ecoando alma em um mundo tão carnal...