Vida Penhorada
 
Se acaso você, em momento de desespero
Chegasse à loja de penhores,
Para sua vida penhorar,
Quanto valor, a ela iriam dar?
É certo que o dono da loja,
Iria tentar desvalorizá-la, visando lucro maior.
E você, sem autoconfiança, buscaria o que há nela de melhor
E exaltaria como um bem maior!
O desfecho dessa negociação já conhecemos:
Você deixa lá sua vida, sai cabisbaixo com muito pouco no bolso
E o penhorista, coloca sua vida n’alguma prateleira,
Com sorriso no rosto!
Agora, você vai sobreviver...
Você vê o tempo avançar e, com o pouco que te deram,
Tenta, sem estímulo, seus pecados pagar e,
Quem sabe, sua vida resgatar...
E o dono da loja não há de esperar
Ele vai passar sua vida adiante:
Seus valores, lutas, lágrimas, tudo que você penhorou,
Se dentro do prazo, você não voltar!
E se ninguém der nada por sua vida?
Afinal, é apenas mais uma vida vivida e,
Aos olhos do mundo,
Comum, ordinária como tantas outras vidas.
Em caso desse, sua vida irá empoeirada,
Pro fundo de uma prateleira, comprimida entre outras vidas.
Até que você se dê conta de que o tempo não para de passar e,
Certamente não lhe fará o favor de esperar!
Sua penhorada vida ficará lá,
Até que você se lembre, com saudade profunda,
De cada lágrima chorada, de cada dor superada,
De tantas vezes que caiu e das tantas que se levantou,
Dos sorrisos que recebeu e daqueles que ofertou,
Do amor que você absurdamente amou e,
Correspondido ou não, fez sua história e
Como fogo e gelo, te forjou!
É nessa hora, enquanto ferve sua memória
E sua alma se debate de saudade
E o espírito grita por aquela sua vida que
Com risos e lágrimas foi construída...
É ai, nesse ponto,
Que esmaece o sorriso do dono da loja de penhor.
Ele brada de ódio. Você descobriu:
Sua vida é seu valor!!!
Todo o pacote de erros e acertos,
Acenos de olá e de adeus,
Toda aquela ordinariedade única:
Esses bens são todos seus!
Ai você corre ao penhor para resgatar o que já está então, resgatado:
Toma posse de sua existência!
A descoberta do valor incomensurável de sua vida vulgar,
Era justamente, o valor a ser pago! (AJ)
Andreia Jacomelli
Enviado por Andreia Jacomelli em 05/01/2019
Reeditado em 09/09/2020
Código do texto: T6543162
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