Meu boi babão

Meu boi babão.

Ah, meu boi, como é triste tua sorte

Atado à canga, não tens saída

Serves ao homem antes da morte

Cede-lhes o corpo depois da vida

Tenho pena de tua sina amarga

Puxando o arado rasgas o chão

No carro de boi arrastas a carga

E movendo a mó, trituras o grão

Morto, teu corpo é todo usado

Carnes, chifres, ossos, sebo, couro

Nada fica para ser sepultado

Tudo tem valor, como um tesouro

Entendo agora o som lamentoso

Que produz o berrante ao tocar

E o rangido do carro de boi

Espalhando tristeza ao rodar

Servo em vida por natureza

Usado na morte por inteiro

Por ter visto teu olhar de tristeza

Não quero mais ser boiadeiro

CBJE: "Versos achados numa noite perdida"

Poemas selecionados

Edição Especial 2019