Sendo quem sou, onde estou?

Sendo quem sou, onde estou?

Na ânsia pelos frutos das ações?

Na memória das antigas aflições?

Sendo quem sou, onde estou?

Na culpa dos deveres procrastinados?

Na fuga pelos prazeres exagerados?

Na busca dos desejos insaciados?

Sendo quem sou, onde estou? Onde estou? Onde estou?

Perdido em pensamentos fantasiosos?

Atado em compromissos perniciosos?

Inerte, em desafios que me cumprem

Aflito, em soluções que não me cabem?

Ocupado com opiniões vulgares?

Procurando o sentido em lugares?

Onde estou? Onde estou? Onde estou?

Na cama, na folha, na tela

No livro, na reza, na fala.

Oh, rigoroso Deus da Ordem

Lei que não posso escapar.

Mesmo o bom, fora da ordem

é ladrão a me roubar.

Então, onde estou?

Escondendo minha inercia nessa reflexão?

Fazendo julgamentos onde pede ação?

Sendo quem sou, onde devo estar?

Devo estar naquele ponto.

No único lugar onde o a culpa e o perdão se encontram.

Naquele singular estado em que o passado e o futuro se entrelaçam

Devo estar no eu do presente. No eu do momento. No eu da verdade

Onde vida e a morte se revelam ser da mesma qualidade.

Por isso devo estar em cada respiração. No bom dia que recebo e no passo que dou.

Devo estar onde estou,

na linha que escrevo ou no caminho espinhoso.

No prazer bem-vindo, no fato ruim e no fato amistoso

Devo estar na escolha, na causa e também na consequência.

Devo estar onde de fato estou e nunca na indiferença;

Se meu corpo está,

mas minha alma não quer estar de fato,

então eu parto.

Mas se for imperioso ficar, aguardo

Aguardo dentro de mim.

Aguardo no ponto mais alto,

Onde alma e ego pessoal se purificam e se abraçam.

Onde finalmente me desfaço, morro e nasço.