[ sem título #18 ]
I.
era dia quando saímos
e voltávamos.
y sobre a sombrinha,
as folhas se mexiam
com a brisa.
y sob a mesma,
com seu tecido azulado
— pintura do céu,
pintura do mar,
via
as sombras
passarem
como se
temporariamente
a noite
acontecesse.
II.
duas vacinas tomadas:
hepatite B
— agulha grossa
no braço esquerdo:
levemente dolorosa,
não como uma saudade
incômoda;
mas dolorosa
que o braço sente
por alguns minutos
após a saída
da sala onde a enfermeira
sorria, y eu agradecia.
já a outra vacina:
tríplice viral
— agulha fina,
não dolorida.
diria que passageira
e nada mais.
III.
uma rua
é composta
por muita coisa:
minha mãe,
falava
das curvas.
IV.
cada curva dava numa rua,
num lugar,
que possivelmente
conhecemos na aurora
dos nossos passos.
e era possível notar que algumas casas
falavam através de suas flores
e grades e cercas.
porque distante daquela vegetação,
próximo à parte de terra batida,
certas casas eram mudas
como o sofrimento y a tristeza
do povo brasileiro
em seu dia de ferro
y ferrugem:
aqueles homem
no trator,
sorri[ri]a?
aquele motoboy
a fazer entregas de gás,
sorri[ri]a?
V.
a verdade
é que não saberíamos.
a verdade
é que não saberíamos.
porque o regresso
à casa,
porque as cousas
a serem feitas.
VI.
tínhamos pressa
sem de fato
termos pressa.
por que era segunda-feira?
por que
o ano
terminava?
a verdade
é que eu
não sabia
— e confesso
que inda
não sei.
VII.
duas vacinas
no PSF
— Programa
de Saúde
da Família —
Pedregal II:
com um cartaz
a desejar
feliz ano novo
a todos
y para que lutássemos,
juntos,
por uma saúde
melhor.