Efeito Avalanche

Caminhando pela Paulista, domingo à tarde, sol escaldante de verão

Pós virada de ano, cidade vazia, todos se banhando nos mares da vida

Caminho devagar, os edifícios chamam minha atenção,

Não por suas alturas, seus letreiros, suas pinturas, suas vitrines

Não que suas arquiteturas não chamem a atenção,

Mas uma outra coisa atrai minha atenção,

Seus fundamentos, suas bases,

O que garante e segura suas alturas e tudo mais que neles há.

Olhos suas bases lembrando-me das minhas,

Houve um tempo que que wu tinha tudo firme, fincado no chão,

Tempo em que eu sabia quem era e meu lugar no mundo

Nesse tempo, nós, toda a nossa casa, era reverenciada e aplaudida,

Nossas firmes bases cabiam e eram firmadas a partir dos conceitos

E amarras religiosos da nossa tribo.

Mas uma avalanche nos inundou, quando nos afogamos nela,

Isso mudo muito qualquer indivíduo, te faz refletir sobre suas bases,

As estremece, as enfraquece até se dissolverem,

Porque você e ela não ornam mais, se tornou maior que ela,

A avalanche te forçou a enxergar mais do que via,

Isso te desnorteou, te confunde,

Você não é mais quem era, mas ainda não se tornou ninguém novo

Caminho do meio, quando a vida te da a rara oportunidade de olhar tudo à sua volta

Medir e estudar tudo, à base de algo maior, ou de nada (você escolhe)

Para se tornar alguém diferente.

Parece lindo e até romântico colocando dessa forma,

Mas na prática é sangrento e doloroso,

Suas partes antigas, seus conceitos tradicionais, seus e da sua casa,

Todos se desmanchando, sangrando, juntos, todos em pedaços, dilacerados,

Sem entender, sem clareza do momento vivido,

Só enxergando a dor, o desencanto, o crescente descrédito

agora não é mais aplaudido, não orna mais com a tribo,

você e sua casa se tornaram transgressores, ali, inseridos, e rejeitados.

Nesses momentos alguns saem logo, outros saem depois,

Quem tem que se redescobrir ali dentro.

Continuo olhando os prédios enquanto penso nisso tudo,

Percebo que não tenho mais bases firmes e confiáveis,

Percebo, então, com certo animo, mas sem saber no que vou me tornar,

Que é hora de construir minhas próprias base, não pelo que me disseram,

Não que eu vá desprezar tudo, somente um tolo agiria assim,

Mas é hora de questionar tudo, medir e ponderar cada “certo” e “errado”

À luz de algo maior que eu, à luz da Palavra.

Não sairei daqui. Pertenço a este lugar:

Esta é uma das poucas certezas que tenho neste momento.

M\as não sou mais como eles,

Então me aceito como transgressora, entendendo que haverá consequências,

O Fato social de Durkheim, mas tudo bem.

Poucas vezes na vida recebemos esse presente, de nos reconstruir para algo melhor e maior,

Posso fracassar parando no caminho, saindo ou me modelando,

Ou assumir a responsabilidade de crescer além do meu espaço.

Muitos da minha casa saíram, esta casa não é mais como antes,

E não me enxergo mais dentro dela,

Mas também não me enxergo bem mais dentro da minha tribo

Contudo, minha decisão está tomada: não vou sair nem me remodelar a nada,

As palavras de ordem agora são Desconstrução e Reconstrução.

Marta Almeida: 01/01/2020