Carta para seu eu

As coisas parecem tão confusas pra mim ultimamente.

O tempo tem passado de uma forma tão estranha.

Ele continua correndo, rápido demais pra que eu consiga alcançar.

Mas ainda assim, lento o suficiente para que eu perceba.

De segundo em segundo.

De minuto em minuto.

De hora em hora.

E assim o dia se finda e novamente se volta contra mim.

Talvez seja culpa do mal estar do verão.

Mas meu corpo todo dói.

Sinto ele fraco, como se estivesse a definhar.

Uma erva que já perdeu toda a vida.

Nem mesmo o sol ou a chuva conseguem revitalizar.

E assim sinto o meu corpo cair.

Mesmo ele continuando de pé.

Minha mente se sente como em uma bateria.

Diversos sons se misturando.

Martelando e me transmitindo vibrações.

Onde minha cabeça gira sem fim.

Meu pescoço coça, sinto meus nervos remoendo.

Uma agonia que sobe do meu estômago até o topo da garganta.

Mas não sinto vontade de por pra fora, nada.

Nem água parece sair dos meus lábios.

Mas suspiros saem, eles fogem de mim.

Não me lembro como comecei nisso tudo.

Nem me lembro o motivo de me sentir assim.

Será que haveria um motivo?

Sim, sempre tem um motivo, mesmo que eu não me lembre qual.

E eu fico ouvindo as vozes das pessoas.

Elas vivem me dizendo tanta coisa.

Como eu deveria me comportar.

Como eu deveria agir.

Como será o meu futuro.

Como eu devo estar no próximo despertar.

E fazem listas intermináveis de funções e questões que eu devo fazer e saber.

Como se o futuro fosse meramente uma lista de tarefas.

Tarefas essas que eu deveria cumprir.

Eu não tenho escolha, nunca houve uma escolha.

Não há livre arbítrio se você quer continuar vivendo esse sonho.

Mas até o sonho é implantado em mim.

Então como eu deveria acreditar em futuro, se tudo que eu vivo é pra satisfazer os outros?

Será que é tão errado assim viver?

Será que é tão indecente ser você mesmo?

Será que é digno de blasfêmia ser um simples indivíduo?

Um pecador qualquer.

Vivendo sua vida qualquer.

Sem formar dentro de seu subconsciente a certeza que nada mais vale?

Por que não valemos nada se não formos exatamente como querem?

Por que merecemos a morte ou um inferno só por não obedecer uma política?

Uma estimativa?

Uma, entre tantas, escolhas?

Por que esse ideal me parece tão irrisório e cruel?

A vida é cruel não é?

Quanto mais se caminha para o céu.

Mais você deixa os outros presos em um abismo.

Abismo que você cava para àqueles que não são como você.

E de que tanto eu lhe indagava mesmo?

Era da vida não é?

Eu já nem me lembro do que falava.

Será mesmo que isso é a chamada gripe de verão?

Será que as pessoas vão entender que, nem tudo se dá um jeito?

Que há imprecisões.

Imprevistos que acontecem e não há como mudar?

Que nem sempre tudo é como desejamos que seja?

E que isso não faz diferença no fim das contas?

Isso é a vida.

E eu sempre acho que ninguém, atualmente, sabe o que é viver.

Acho que perdemos o significado de viver.

Não vivemos mais.

Só existimos desejando um futuro inatingível.

Um paraíso inalcançável.

Uma utopia que conserte o que nós não trabalhamos para corrigir aqui.

É, parece que o meu tempo se esgota.

Talvez eu esteja mesmo com a gripe de verão.

Ou talvez essa seja a última coisa que eu pensei em falar.

Antes de chegar ao fim.

Então eu só desejo melhoras.

Ou talvez que tudo no final seja

Maicon Lopes
Enviado por Maicon Lopes em 14/01/2020
Reeditado em 14/01/2020
Código do texto: T6841298
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