Observâncias

É, eu sei

falo pouco de saídas,

e muito de saudade,

silêncio e solidão

Não consigo fugir disso

Pouco falo do que há de tanto

de canto,

nuvem e de sorriso

de tudo que se é preciso

para a vida

e até do que não

Gostaria mais

de dizer sobre ondas de paz

e o vento das marés

de todo o tom verde

do bom azul marinho

e celeste

Dizer de novos sonhos

nada feudal, mas os das ralés

e que inda tenho fé,

no passo do homem...

mas a fuga do otimismo

é tão mais

que o acúmulo do ruim

se torna assim

o mestre

O que a inspiração

me dá como sede

nem sempre disponho

com vigorismo

Entre uma coisa e outra

tenho pontas soltas

e as dúvidas me consomem

e meu verbo se arruína no abismo

É, eu sei o quanto era

mais poeta

aos 10 anos

Numa bicicleta

via o mundo em primaveras

com olhos de futuros planos

Percebia na paisagem

outras cores...

Hoje aos 59

o que me move em poesia

(mesmo que inda hajam flores)

não é o riso que a tudo rima....

esse eu sei, declina

tem estática na alegria

O absurdo

perde a teatralidade...

as cortinas

não se abrem por inteira

a ponto que fica tudo tão preso

sem beira

no nada coeso

sem revelação

do que é realidade

ou fantasia

E o poema sai assim,

manequim, obeso

desformatado, leso

mera obrigação

com prazo de validade

empobrecido na grafia

perdido da emoção

28-10-2019

16h51min

Murillo diMattos
Enviado por Murillo diMattos em 19/01/2020
Reeditado em 20/01/2020
Código do texto: T6845784
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