Meu Jardim - Parte 1
Um dia resolvi caminhar pelo meu jardim e admirar a natureza que n'ele havia.
Na travessia, entre cascalhos e uma aquarela de flores, encontrei um jovem tímido, mas muito aventureiro, dizendo conhecer muitos mistérios e até o mundo inteiro.
Ele me mostrou seu jardim e eu o mundo que havia além de seus portões. Estendi então minhas mãos e o puxei para fora.
Ainda que relutante, demonstrou interesse em explorar a imensidão que seus portões o privaram de ver. Saiu, sorriu e até se divertiu.
Até que um dia, muito distante de seu jardim, um vazio sentiu, a saudade bateu, então retrocedeu. Ah, não! Ele se perdeu...
Eu o achei dias depois nu, com o rosto em pó e bochechas da cor de urucum. Cansado, culpado, envergonhado e desacreditado. Coitado, coitado...
Ele implorou para voltar ao seu jardim, e eu resolvi levá-lo de volta.
Ao chegar lá, caminhamos entre cascalhos, folhas secas e galhos. A aquarela morreu, um cheiro de enxofre ascendeu, agora onde está a sua essência? Perdeu?
Deixei-o chorar rios, a fim de regar a terra infértil de seu jardim. Desidratá-lo não adiantou, pois à partir de suas lágrimas a flora reanimou.
Eu não voltei até lá, mas mandei alguns reforços.
Ele, ingênuo, abriu as portas de seu jardim e meus aliados não perderam a chance. Sem perceber, leiloou seu terreno, lance atrás de lance, vendido por sua alma!
Agora, sem seu jardim e perdido pelo mundo, só lhe resta um pedaço de chão, no qual tenta se manter de pé, quase que em vão.
Acontece que o seu lado bom está no chão, enquanto seu lado mau ganha vida na destruição. É questão de decisão, decisão...
- SALOMON, Leonardo (26/01/2020)