Casulo Religioso

Uma agonia só, trancada num casulo, repleta de críticas e regras

Não pode errar, perfeição é obrigação,

Que coisa triste!

Ela se arrasta pela vida, transmitindo de tudo que tem aos outros,

Muitas coisas boas tem ela, é claro,

Mas essa maldita perfeição a acompanha,

Uma crítica aqui, uma indireta acusativa ali,

Ninguém tem paz,

Admitir que errou nem pensar,

Desculpas só depois de uma guerra,

Se derrubou um papel sem querer não foi culpa dela,

Não foi ela,

Nada de “Desculpa, foi mal”.

Não se controla, não nota, não percebe,

Esse olhar é tudo que ela conhece da vida.

Um dia desses se viu num emaranhado de dor e tormenta,

No dizer dela fraquejou, descumpriu as regras,

Foi como se aquele tivesse sido seu primeiro pecado,

Como se não fôssemos todos pecadores irremediáveis.

Enlouqueceu, se culpou, se julgou,

Mas como aprendera bem a justificar e varrer para debaixo do tapete

Todos os pecados dos quais não pudesse se livras,

Foi o que fez.

Só que a vida deu o troco, puxou tudo de debaixo do tapete,

Deixou bem à vista de todos, no meio da sala.

Agora, todos os criticados a criticam, apontam o dedo para ela,

Ela não tem paz.

Se bem que nunca conheceu de fato a paz,

No máximo uma tranquilidade controlada.

Agora vai ter que ser descontruída.

O Criador deu um basta nesse casulo aprisionador,

Jogou todas as paredes fora, tirou suas amarras,

A fez enxergar como igual a todos (pecadora),

Está a limpando pra reconstrução.

Estou ansiosa para ver essa obra acabada!

Marta Almeida: 22/02/2020