O tempo
Quero ouvir teu badalar pesado em minhas vísceras
Em tua viagem de morte contínua que tudo engole, eu já estive.
Erro é escrever que estou, pois a palavra lida é o passado mais atual,
por não banhar sua passagem com a nostalgia de tudo que se esvai.
Tu, ó tempo que corre em mim, já carcomida pelo tarugo que me adormece,
levaste meus anos, meu brilho, meu suor, meu sangue fértil,
trouxeste, porém, o pó em minha face espelhada e a lembrança de que ainda vivo.
Sua passagem branda e certeira pouco me faz notar,
o que me atormenta é a consciência de que a ginástica circular
não corresponde à linearidade do viver plácido.
O que me nauseia é a certeza de tudo o que já me trouxeste
e a incerteza do tempo que falta para que tu me ganhes.