O tempo

Quero ouvir teu badalar pesado em minhas vísceras

Em tua viagem de morte contínua que tudo engole, eu já estive.

Erro é escrever que estou, pois a palavra lida é o passado mais atual,

por não banhar sua passagem com a nostalgia de tudo que se esvai.

Tu, ó tempo que corre em mim, já carcomida pelo tarugo que me adormece,

levaste meus anos, meu brilho, meu suor, meu sangue fértil,

trouxeste, porém, o pó em minha face espelhada e a lembrança de que ainda vivo.

Sua passagem branda e certeira pouco me faz notar,

o que me atormenta é a consciência de que a ginástica circular

não corresponde à linearidade do viver plácido.

O que me nauseia é a certeza de tudo o que já me trouxeste

e a incerteza do tempo que falta para que tu me ganhes.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 26/02/2020
Reeditado em 31/10/2021
Código do texto: T6874951
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.