O fim

O fim

E quando partir desta terra as aves que voam os céus, e partir também os céus ao meio,

Quando o verde do solo entristecer e suas flores não mais brotarem,

Quando os gigantes arrancarem suas raízes do chão infértil,

Quando a escuridão ferir não somente a luz, mas tudo que fez-se dela, toda lamentação irá ecoar no vazio e retornar ao vazio de nós mesmo.

Quando o olhar da última criatura não lembrar da piedade tampouco do envelhecer,

Quando os frutos do arrependimento nascerem serão para a alma inúteis,

Quando o universo silenciar e silenciar com ele todas as estrelas,

Quando a última rosa deitar-se no sono eterno, e nosso eterno deitar-se também tudo que respira, o início dos fins haverá chegado.

Quando o olhar fitar o infinito, e não enxergar nele o mesmo de um segundo atrás,

Quando as nuvens não carregarem mais o que irriga a vida,

Quando o sol esconder-se na vergonha de quem iluminou,

Quando a terra cair, e cair com ela todos os dias vividos, não haverá mais nada para lembrar.

Quando o conhecimento não mais valer, e tudo que se foi enraizado falecer,

Quando todo o cosmo despedir-se de uma existência,

Quando a falência deixar de ser medo e tornar-se esperança,

Quando o olhar piedoso clamar até mesmo o ódio, o amor decidirá sumir em lembrança a todos os dias que não foi chamado.

Quando todo socorro não for ouvido, e toda lembrança passar a não ser lembrada,

Quando toda esperança morrer, lembraremos dela e a condenaremos quando foram nossos olhos que não a viram,

Quando todo amor junto com todo ódio unir-se para morrerem juntos,

Lembraremos que amamos mais o rancor que a tudo que fomos, e deixaremos de ser.

Maria Fernanda de Araújo Dantas
Enviado por Maria Fernanda de Araújo Dantas em 01/03/2020
Código do texto: T6878000
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.