O fim
O fim
E quando partir desta terra as aves que voam os céus, e partir também os céus ao meio,
Quando o verde do solo entristecer e suas flores não mais brotarem,
Quando os gigantes arrancarem suas raízes do chão infértil,
Quando a escuridão ferir não somente a luz, mas tudo que fez-se dela, toda lamentação irá ecoar no vazio e retornar ao vazio de nós mesmo.
Quando o olhar da última criatura não lembrar da piedade tampouco do envelhecer,
Quando os frutos do arrependimento nascerem serão para a alma inúteis,
Quando o universo silenciar e silenciar com ele todas as estrelas,
Quando a última rosa deitar-se no sono eterno, e nosso eterno deitar-se também tudo que respira, o início dos fins haverá chegado.
Quando o olhar fitar o infinito, e não enxergar nele o mesmo de um segundo atrás,
Quando as nuvens não carregarem mais o que irriga a vida,
Quando o sol esconder-se na vergonha de quem iluminou,
Quando a terra cair, e cair com ela todos os dias vividos, não haverá mais nada para lembrar.
Quando o conhecimento não mais valer, e tudo que se foi enraizado falecer,
Quando todo o cosmo despedir-se de uma existência,
Quando a falência deixar de ser medo e tornar-se esperança,
Quando o olhar piedoso clamar até mesmo o ódio, o amor decidirá sumir em lembrança a todos os dias que não foi chamado.
Quando todo socorro não for ouvido, e toda lembrança passar a não ser lembrada,
Quando toda esperança morrer, lembraremos dela e a condenaremos quando foram nossos olhos que não a viram,
Quando todo amor junto com todo ódio unir-se para morrerem juntos,
Lembraremos que amamos mais o rancor que a tudo que fomos, e deixaremos de ser.