Ambiguidades

Noites mal dormidas

Dias mal vividos

A impotência deixou de ser uma sensação

Atos simples demandam

de outras capacidades e esforços .

Minhas mãos estão frágeis

Receosas

Meu toque é limitado

Pensado .

Já não residem em mim dois lobos

Para que eu escolha qual alimentar.

Eles se foram

Os pratos da balança

que parecem ter vida própria

Não conseguem se equilibrar

Fragilidade e medo

Tédio

Racionalidade e emoção

Solidariedade

Minha alma toca o céu

Mas meus pés não pisam o chão

Ouço o jornal

Leio as manchetes

Procuro me ocupar

E antes disso já estou exausta

Do grande nada que tenho feito

Fecho os olhos e me envolvo

em meus próprios braços

Mas falta um coração em mim

O que se encontrava com o meu

Antes de tão triste momento

Sem ele o abraço não tem efeito

É desprovido de sentido

E busco senão num um grito

Num gemido ou num suspiro

Um grãozinho de minha fé

E a planto num pedido:

Faz-me crer que vai passar

Que cresça em mim

A centelha de algo divino

Que o invisível sobreponha o microscópico

E os meus joelhos se dobrem

E os meus lábios se movam

Como há tempos não fazem mais.

Que eu suplique em clamor

ao Deus do impossível

Deus, quanta falta você me faz .

(Cléria Barros)

Cléria Barros
Enviado por Cléria Barros em 21/03/2020
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