Ambiguidades
Noites mal dormidas
Dias mal vividos
A impotência deixou de ser uma sensação
Atos simples demandam
de outras capacidades e esforços .
Minhas mãos estão frágeis
Receosas
Meu toque é limitado
Pensado .
Já não residem em mim dois lobos
Para que eu escolha qual alimentar.
Eles se foram
Os pratos da balança
que parecem ter vida própria
Não conseguem se equilibrar
Fragilidade e medo
Tédio
Racionalidade e emoção
Solidariedade
Minha alma toca o céu
Mas meus pés não pisam o chão
Ouço o jornal
Leio as manchetes
Procuro me ocupar
E antes disso já estou exausta
Do grande nada que tenho feito
Fecho os olhos e me envolvo
em meus próprios braços
Mas falta um coração em mim
O que se encontrava com o meu
Antes de tão triste momento
Sem ele o abraço não tem efeito
É desprovido de sentido
E busco senão num um grito
Num gemido ou num suspiro
Um grãozinho de minha fé
E a planto num pedido:
Faz-me crer que vai passar
Que cresça em mim
A centelha de algo divino
Que o invisível sobreponha o microscópico
E os meus joelhos se dobrem
E os meus lábios se movam
Como há tempos não fazem mais.
Que eu suplique em clamor
ao Deus do impossível
Deus, quanta falta você me faz .
(Cléria Barros)