Passeio com Augusto dos Anjos

Odor nauseabundo paira sobre a cidade!

As nuvens perderam a sua brancura,

Tornaram-se negras, sem castidade,

Refletindo a mais triste amargura.

Vejo tumbas espalhadas pelo chão!

Lápides, com escritas disformes,

Escondem embaixo a putrefação,

Dos vencidos pela morte.

Constato que esses vencidos,

Um dia também tiveram desejos,

E que em seus peitos oprimidos

Quiseram as mesmas coisas que almejo.

Enterro meu ego nas tumbas,

Com meus fantasmas mais temidos,

E triste concluo que somos sombras,

Condenados a ilusão dos sentidos.

Se por derradeiro morre a esperança,

Saio do lodo do pantano nauseabundo,

E busco a todo custo temperança,

Para salvar minh'alma deste mundo.