POEMA-ALERTA

Não se esconda atrás de teus versos

Não faça de tua obra uma trincheira

Sê esse que luta, que não se cala

Toda delicadeza excessiva oculta silêncios

Não sejas cúmplice do medo

Toma para ti essa chaga viva

Porque não existe dor que não seja tua

Faças de tua voz uma extensão de teu corpo

Se preciso for, invente as palavras

que possam traduzir toda opressão

para aqueles que ainda não conseguem enxergar

(posto que o mundo é injusto e a cegueira habitual)

Teus irmãos são massacrados

E a realidade vai reclamar de ti

mais do que essa doce tranquilidade em que vives

É preciso que entendas que amar

É nutrir a consciência dos sonhos

Não sejas o que consente a intolerância

Não sejas o que compactua com a maldade

Estendas a mão àquele que sofre

porque, às vezes, a arte assombra mais que a realidade

Um quadro em que retrate a miséria

Impacta mais que o indigente deitado na calçada

Confronte toda forma de crueldade

Ainda que esta possa se voltar contra ti

Os perversos podem tripudiar sobre nossos ombros

mas é imperativo que nosso espírito e mente

os combatam cotidianamente

Suprimas de teu ser toda espécie de superioridade

É desse sentimento grotesco que surgiram

as piores atrocidades da História

Leias mais livros que o teu tempo permite

para espantar de ti a ignorância

Contudo saibas que o saber

vem da compreensão dos mistérios da vida

e isso, às vezes, está onde menos imaginas

Contas os teu dias pelas tuas conquistas

nunca pelas tuas decepções

Para não se tornar aquilo de mais detesta

Entendas que a felicidade não é encontro, é uma busca

Que o sonho não é um lugar, é um caminho

E que você não é centro do mundo,

mas é uma fração do Universo.