Não Quero Terra Firme Se Posso Voar

Tenho dormido e pensado

Todas as feridas abertas

Já não colho sonhos não lembrados

pois seriam apenas suposições incertas

como batidas na porta aberta, vista

através do vão do vagão descarrilhado,

sem ninguém lhe ter controlado.

Caminhei e vaguei por trilhos trocados

e lá ninguém me beijou na boca

para me despertar do sono profundo,

na viagem da alma alada pelo mundo.

Melhor assim. Não quero terra firme

se posso voar. Prefiro ter o abraço

do vento a me carregar pra longe

que viver pra sempre num mesmo lugar.

Pergunto quem hoje sou, porque não

me reconheço mais depois de tantas

partidas perdidas nesse jogo de fugas

por entre mundos amiúde visitados.

Mas não conto os destinos ignorados,

relegados a planos passados, pois neles

não havia mesmo ninguém a me esperar

Talvez viaje pro México e consiga invadir

uma das suas pirâmides e lá me entocar.

Ou para um lugar mais aberto me evadir,

um lugar que não permita a multidão

me notar, mesmo no meio da densa solidão.

Talvez encontre um portal para Nárnia

Este sim, seria um bom lugar:

viveria um dia inteiro de nada se faz,

tomaria um fresco e quente café,

e deitaria a ler meu Drummond em paz.

Por ora, preciso acordar.

Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 17/04/2020
Reeditado em 18/04/2020
Código do texto: T6919616
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