MINHA VELHICE (AOS 44 DO PRIMEIRO TEMPO...)
Eu sou tão velho
Que chego a ser do meu tempo
Tempo de inocência, chão de terra
Dia de chuva, céu cinzento
Mas, também, céu azul
Sertão, riacho, canto de sapo e rã
Sou do tempo de João do Vale,
Ary Lobo e do “moro em Jacanã”
Tempo dos forrós de Ivan Bulhões
De viajar na boleia de caminhão
No colo de minha mãe
Sou do tempo do mato,
Da vereda Agrestina,
Da urtiga, turco, beira do rio
Do tempo dos Guararapes,
Do “bolo de saia” e mariola,
Comidos às pressas no lanche desta escola...
Sou do tempo do meu pai chegando do trabalho
De minha mãe cozinhando feijão
De minha vó, no quintal,
Plantando suas roseiras,
Contando suas histórias,
Cantando suas tristezas
Sou do tempo de mim mesmo,
Passado a limpo nestes anos,
Entre risos e desenganos,
Ainda a ter sonhos e desejos...
Sou do tempo de meus filhos,
Sou do tempo da esperança que se renova
Sinto a prova de que é preciso
Tomar as rédeas da própria prosa
E verso minha história
De ontem, de amanhã, de agora
Nas noites, tardes, nas manhãs
Pois, a vida é amanhecer
Até que haja noite sem fim.