ALIÁS, PROFESSOR...
E, aliás, há a guerra, todo dia
E a poesia que nos salva
E a prosa que nos dá voz
E o grito que nos dá vez
E vazão
E, o silêncio, às vezes,
Razão
E um monte de pormenores
Nos faz menores,
Mirando o infinito...
Há muito de sonho em meu labor
Há muito de insano
Há muito, perdi o sono
Só não posso fazer cena...
Cobram de mim um grã-fino,
Pagam a mim de operário...
E eu o sou...
Sou professor-mestre, sim,
Mas, sim, também, proletário...
Meia e volta, volta e meia
Meio o mês sem mais salário
E, cobram-me, utopias
E, cobram-me, ponto de horário
E, no acerto de contas,
Vejo-me em palavras prontas,
Vejo-me em dias corridos,
Cansados, calados,
Nem sempre reconhecidos...
A prova, a nota, a aula, a pauta,
A prática, a súplica, a solidão,
A sinfonia dos “nãos”,
O mísero sim de um dia de outubro
E quase trezentos de outonos
E mais uns cinquenta de enganos,
E mais conversas de engodos,
E mais sintomas de ingratos,
Até quando? Desde sempre...
Desde sermos quem nós somos
Ou, talvez,
Queiramos ser...
O que nos faz sonhar
Mesmo no tergiversar de quem tem lei...