Jurema - A Voz dos Oprimidos
Jurema de olhar profundo
Doce como mel
Declara em sua tez empoeirada
A fatídica lembrança da criança só
Ela pronuncia balbucios do coração
Em sorriso escancarado
Mostra o brilho e as sombras
Dos antepassados
A menina esconde o rosto
Com medo de ser vista
Já doou tanto amor
Que envergonhou o próprio corpo
Jurema está a se descobrir
Pretende iluminar seu dia
Sentir o calor dos raios de sol
Sem queimar no fogo dele
A voz de Jurema
Cala constantemente
Dentro de si
É seu maior pecado
Ela finge que está a aprender
E se obriga a pedir ajuda
Esqueceu-se da princesa que é
Nutriu-se da escuridão
No escuro Jurema enxerga bem
Ela crê que é um ponto de luz
Mas ninguém a vê
Porque quanto mais se aproximam
Mais ela se afasta
Jurema teme o bicho brabo
Que enxerga através das outras pessoas
Ela foge para dentro de si
E fica lá no fundo
A mendigar afeto
Hoje conheci Jurema
Depois de cinco anos
De tentativas frustradas
Ela apareceu para mim
Jurema vivia presa no meu maxilar
Pela primeira vez hoje
Entrelaçou meu pescoço com suas perninhas magras
E minha cabeça com os bracinhos finos
Recostou o rosto com as bochechas em pólvora no meu
E sorriu de felicidade
Senti o amor e a gratidão de Jurema
Ela era o mendigo em mim
Agora que a conheci
Posso externar mais esse pedaço de mim
E aquecer Jurema com o abraço da luz alheia
Jurema se encanta
Com a sombra que faz
No coração dos homens
Ela ensina a mostrar
Para nós mesmos a própria luz
Logo mais Jurema cresceu
Criou coragem e foi desbravar a floresta escura
Para onde olhava havia luz
Ela é o sol que ilumina a vida
Você já encontrou sua Jurema?