NUM INSTANTE


num instante tudo fica tão frágil
como aquela tênue linha no horizonte
que se delineia no vazio dos nossos olhos
aplica-se o mercurio-cromo na ferida aberta
coloca-se um band-aid
e tudo que desejamos ouvir
e a voz da nossa mãe:"isso não e nada, vai passar"
mas há coisas que passam na vida
que ficam por dentro por muitas eras
curtidas no amargor da tristeza
lembranças tristes como a sinfonia de Rachmaniov
mãos ternas acariciando os medos
um grito que vem de dentro e quase assusta
e é maior do que todo o silêncio
um cego atravessando a avenida com sua bengala branca
uma borboleta que perde a asa num voo rasante
uma formiga fazendo seu caminho entre gente grande
carregando sua folhinha verde com dificuldade
e em seus olhinhos, o horror de ser pisada
ou quando o telefone toca no escuro da noite
e o farol reluz uma faixa assustadora através da cortina
num instante tudo fica tão frágil
o amor grita e clama o desejo inconsciente
um espasmo no coração lembra-nos a fragilidade da vida
e as mãos se estendem em pedido mudo de clemência
mas o silêncio continua impenetrável
regendo a orquestra imaginária do medo
enquanto a esperança permanece incansável
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 17/07/2020
Reeditado em 14/07/2021
Código do texto: T7008401
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.