Versos Sóbrios - Versos Embriagados

Tomado pela reflexão,

degustando aquele raro momento de lucidez,

busquei ouvir meus pensamentos.

Pensei alto, gritei por um momento

Era como me descobrir vivo outra vez.

Não é fácil se fazer ouvir,

como não é fácil se enxergar sem um espelho,

sempre olhando para tudo e para todos,

mas sempre esquecemos de olhar para nós mesmos.

Respirei fundo,

como se eu quisesse resgatar algo lá de dentro.

Eu sentia que havia perdido algo

no meio daquele vazio profundo

criado pela ausência de bons sentimentos.

Respirei fundo mais uma vez.

Como um balde amarrado a uma corda,

divagando no profundo do meu ser,

minha alma anestesiada vai e volta

submergindo naquele poço gelado,

atraída pelos ecos sedutores da embriaguez.

Aqueles ecos,

ora eu queria fugir deles,

ora eu queria me afundar com eles de uma vez.

Sempre me encontrei ali,

entre a cruz e a espada;

um dilema difícil de vencer.

Prendi a respiração,

após mergulhar.

Sentia ganas de continuar lá,

sozinho e esquecido;

eu era o próprio vazio profundo e adormecido

que ninguém sentiria falta outra vez.

Lembrava-me de todos os momentos vividos,

ou imaginados.

Visualizei o que havia feito de bom, alguma vez,

dormindo ou acordado,

sóbrio ou embriagado.

Certos delírios eram mais prazerosos que a lucidez.

Beijos e sabores amargos,

entre lençóis de suor forte molhado,

havia flashes guardados

no fundo do poço de minha insensatez.

Havia também sorrisos falsos,

promessas e segredos,

em outros tempos, eu escolheria continuar enganado,

protegido pela inocência,

para não sofrer tanto, talvez.

Mentiras, conexões quebradas,

como correntes mal forjadas,

amizades feitas, outras veladas,

que amontoavam no fundo do meu ser.

Havia tantas coisas para contar,

e tão poucas pessoas para ouvir,

havia um mundo inteiro em mim para explorar,

mas não havia ninguém para me despir.

Certo dia, eu reuni forças

e me ergui do fundo do meu poço gelado.

Subi no amontoado de sentimentos,

de flashes do passado,

de bons e maus momentos.

Como na história do asno que estava sendo soterrado,

eu escolhi escalar minha desgraça,

do que morrer embaixo dela ali lá dentro.

Valeu a pena para mim?

Valeu a pena para o asno?

Alguém se importaria com seu/meu sofrimento?

O que pode valer o mundo inteiro,

para alguns pode não valer um tostão de dinheiro.

Tudo se resume em um infinito e imprevisível "talvez".

Mas, a lucidez não mostra todos os caminhos.

Ela é o Mestre dos magos;

ela nos ajuda a entender

que na vida há dois lados:

Sempre precisaremos de ajuda,

mas não dá para contar com todo mundo

quando necessitamos sobreviver.