Surdo leitor

Deixe-me complicar

As amargas entranhas

Deste anti-soneto

Texto do sono, este

É que tem uns dez ou mais

que escrevem

e de cada dez

quinhentos vomitam versos

de calendários gregorianos

e morro dos ventos da náusea

ourivezinhos de

Pérola polida

Ora de mais

Ora de menos

O justo equilíbrio

é o grito antes do estouro

pausa

antes da morte

poesia em carne de sol

Sangue seco

Mas, vamos, tudo bem…

Encharque esse papel de pranto!

Eia, Dance como um chacal perdido num êxtase!

Evoque ninfas loirinhas de papel crepom!

Brinque de ser fogo, depois água,depois fogo!

Salte sobre a mesa!

Quebre copos!

Rasgue panos!

Tire Napoleão da ilha!

Desenterre as tribos e os reinos e tudo!

E chore sobre sua amada

Chore, trovador de soluços!

Grita, que teu leitor é surdo!

E ele permanece surdo

Porque gritas um agudo do agouro

e metáforas sao silenciosas.

Aziza Basso
Enviado por Aziza Basso em 26/07/2020
Reeditado em 26/07/2020
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