Poética alquimica - A pedra filosofal
"No poente observei minha luz ser devorada pelas nuvens escuras da mortalidade, e sob o áureo vapor
que aniquilava-se no céu, sondei o sol que fenecia em minhas entranhas.
Sob os meus pensamentos fadigados, almejei o doce beijo da morte, que viria como um afeto direcionado à minha vida.
Mas sob a cólera celeste, almejei o elixir da vida, e a cura para todas os males que se alastravam pela minha alma."
Assim permaneci com uma presença antagônica dividindo-me por dentro.
Questionando-me se encontraria a cura na imortalidade, ou se o seu brilho uma hora se esvairia, deixando-me trancafiada em um eterno pesar.
Os vazios abissais da existência se abriam sobre o meu peito, quedando-me em precipícios internos.
E enquanto caía em minha solidão
procurei curar os meus vazios através da filosofia; e com comprimidos e autoanálise tentei matar os males que me assolavam.
Certa noite, eu tremi ao encontrar um livro de receitas poéticas que serviam para alimentar os abismos da alma e lapidar o Opus da existência.
Quão abatida fiquei ao ver meu nome em sua capa; havia eu criado a receita do que não alcancei?
De certo, havia me transferido para ele, apagando minhas memórias
e deixando-me entre os restos de uma
insubstância.
Por entre tuas páginas procurei a receita de mim -
Ao ver minh'alma embrutecida
destilei as dores que em mim moravam; e aqueci meus pensamentos até transmuta-los
em uma essência puramente minha.
Mas já não tangia-me, pois escorria tão dissoluta entre palavras fragrantes de enxofre, sangue e mercúrio - a mais pura composição das minhas feridas -
Assim o sublime ouro quando se fez de mim, jorrou sem forma, derretendo em raras aflições.
Deste modo, permaneço estancando o ouro que escorre pela minha alma,
buscando-me através da alquimia lírica.
Tentando unir-me num sulco sólido e rochoso, que logo derrete em uma busca sombria e vertiginosa.
Transmutar-me nunca foi tão árduo.
E a cura prova-se infindável para um abismo sempre lapidável - Ser humano -