Cai a primeira folha, 
flanando no ar
num ballet requintado
E, pousa delicadamente
no chão.

Cai outra folha, 
quase em seguidilha
e, o vento amaina
e, a faz paira no ar 
o amarelo de sua alma,
e, pontas já ressecadas
pelo sol.
Pincelam a sofrida abrasão.

Minhas lágrimas caem 
sem flanar
descem pela face,
e, pingam aquele outono
intrigante.

O sol ainda quente
nos faz lembrar o verão.
A chuva passageira 
parece dar trégua ao calor.
Mormaço.

Depois, úmidas e pesadas
as folhas voltam a cair
mas, desabam quase retilíneas
sem o ballet entusiasta
apenas com o peso plúmbico
da alma umidecida.

Enxugo a face.
Tento aparentar menos triste.
Afinal, tristeza é coisa secreta.
Deve-se guardar no baú mais
recôndito.

Trancado em silêncio.
Ou, durante o banho
onde os olhos vermelhos
são resíduos de shampoo...

Cai a outra folha
que estava dependurada
E, balouçava harmoniosa
como uma trapezista.
Como efêmero lábaro
viril...

O outono passará
As folhas também passarão
O chão atapetado de folhas alaranjadas
Cumpria um ritual
absoluto de sabedoria
cíclica da vida.
O caminho estava marcado.
Por existir um simples outono.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/03/2021
Código do texto: T7212637
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