Posse

Ouvia o Quebra-nozes de Tchaikóvsky, de uma beleza simétrica, apaziguadora e comovente.

Esse clássico a cada audição me tece, com uma intensidade que nunca arrefece.

No percurso da composição, intuí memórias equivocadas, erros na trajetória, antes do cálice envenenado com cólera, dentre as tantas mortes sem sentido da história.

No Brasil, a agonia da pandemia, já assassinou 450 mil.

Quantas correções na partitura?

Por que pensar isso no genocídio da atual ditadura?

Tchaicóvsky escreveu uma composição sublime, com sua atormentada alma, que com calma...se exprime e nos resgata mesmo nesses tempos de cólera e crime.

Alguns cometem um errinho aqui e outro acolá, para que o comum dos mortais, nem se dê conta de todas as suas perfeições, nos seus ciosos abdominais.

Ser imperfeito é o meu melhor jeito.

Quando Deus me criou, já havia acabado todo o estoque de juízo, só havia ainda safadeza.(Nada além me seria preciso, com certeza)

Uma amiga, com a qual acumulei quasares de quases, claro que muito em função da minha imaginação delirante, cannabislizante, me mandou um texto soberbo, hoje bem cedo.

Na memória das laudas, nenhuma alusão aos beijos latejantes, em caldas, ofegantes, com os quais lhe tapava de forma louca, a gíria na boca.

Ela é aquela pessoa deboas, que pedimos em nossas orações, para que apareça em nossa história, para nos resgatar da escória, (bolsominions)nos oferecendo um sorriso no calor da manhã, como o mel das abelhas de Canaã, nos ensinando a sermos melhores que ontem, até que as nações da América Latina, calem o verdugo do Norte e despontem...

Em seu texto polêmico para o senso comum, in totum (completamente)a monogamia é mencionada enquanto uma das responsáveis pela violência doméstica, vista enquanto uma determinação capitalista e assim sendo, anti-ética.

Entre outras coisas pergunta, como poderá haver paz no mundo, sem que ela exista nos relacionamentos amorosos, nos labirintos de tantos amores ansiosos?

Segundo essa minha amiga, o erro nos relacionamentos amorosos, é o sentimento de posse, algo que sempre se instala nessas vibes, de modo bem precoce.

É só a genuína compaixão e solidariedade, que nos oferecem a possibilidade de escaparmos desse egoísmo primário...que torna para grande número de mulheres, o amor um calvário.

Contudo, o ser humano não é um contato inanimado.

A cada beijo, a cada filho, a cada verão, mudamos a outra/o outro e nos mudamos também.

Tornamos-nos híbridos, depósitos de afetos, (também negativos) lembranças, vivências, sonhos...

É sempre dolorido desistir de um trajeto comum, mesmo quando desistir é um ato de sabedoria.

Quem nunca teve uma má fase, que quando se pensava que não, logo depois ficava bem pior?

Mas, teve dias em que a encontrei perdida no seu quarto e num desacato, fui um anjo fiel, e a levei do inferno ao céu.

Sem mais gracinhas, nenhuma ave voa com uma asa sozinha, então, quem sou eu, quem é você, se desejarmos ser livres, mas com vergonha do viver?

O amor não pode ser tóxico, algo utópico em uma sociedade tóxica, mas a ideia é desenvolvermos anti-corpos para essa toxicidade, através do afeto, dos exercícios no sentido da felicidade, a todo o momento, elaborando e saboreando esse sagrado alimento, conforme a neuro ciência e Cristo, desenvolvendo a resiliência...encontrando a razão pela qual eu existo, pela qual existimos...elaborando no amor as nossas convivências e nunca com sentimento de posse, ou qualquer outro sentimento que nos destroce.

Daniel Barthes.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 15/04/2021
Código do texto: T7232381
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