Dead silence

"Em todas as poesias recitadas pelo silêncio, entranha-se a mais viva expressão daqueles que um dia perderam a voz; contemple o silêncio e tocaras todas as súplicas perdidas no tempo e a sua própria voz suprimida no vento."

Sob a aurora de todas as eras,

Uma voz dominante vibrou a dissuadir os movimentos de cada ser humano; fazendo-os de fantoche de sua própria época.

Alguns se arriscaram a desafia-la, mas muitos escolheram se calar, pois eis que tal silêncio sempre foi a voz conivente dos covardes (...)

Outros, no entanto, foram silenciados e erradicados pela voz que surdamente evadia os tímpanos e aniquilava-lhes a existência.

Desde então ao lado dos silenciados, uma desfigura imprime-se no arcabouço do segredo, é uma miniatura sequelada pelo tempo.

Ora, e quem de nós já não foi secretamente silenciado? Digo-lhe, que cada um carrega ao seu lado, um boneco de ventríloquo; uma neurose esculpida através da mais íntima substância plasmada fora do nosso ser.

O boneco nos sorve a alma e emite a confrange forma volvida em nosso âmago; abafado como uma concha flutuando em mares escuros, ele verbaliza os sons úmidos do passado.

Ocultamo-nos através dele e ele fala através de nós.O passado é a voz dos mortos expressa através de compulsões e inseguranças;

É o som que emitimos enquanto permanecemos calados em nossas sombras.

Portanto, afirmo-lhe que uma neurose comunica-se com o mundo através de ti, e por mais que chegues a desviar a verdadeira fonte da tua voz, os tecidos do silêncio pulsam em teus lábios mudos.

No silêncio, o fantoche que tu levas ao seu lado exprime os escombros da tua alma, pois tudo o que silenciamos ganha forma fora de nós e encontra maneiras de comunicar-se ao mundo.

- E de onde mais sairia a voz dos nossos atos, se não de nós mesmos?

Digo-lhe que desde os tempos mais remotos, a inércia revela teus mais profundos movimentos -

A profusão apocalíptica dos teus traumas; a rouquidão da expressão que embarga a alma adulterada.

Quando contemplares o silêncio, escutaras o fantoche que foi esculpido aos moldes de todas as tuas pestilências; só assim verás o passado que manipula-te e apaga-te no tempo, mudo e costurado por dentro.

- Letícia Sales

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Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 26/06/2021
Reeditado em 03/03/2022
Código do texto: T7287554
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