A cicatriz pulsante da vergonha

A cicatriz pulsante da vergonha

É algo que eu esmagaria sem piedade

Eliminaria sorrindo e vagarosamente

Como se faz numa vingança há muito esperada

Com a mente explodindo em raiva brilhante

Eu traria o fim com requintes de crueldade

Devolveria a tortura de tantos anos

Com total aniquilação em meio à infindável dor

Restos espalhados incongruentes pelo chão

De um coração açoitado e enfraquecido

Pelas sombras ela se move devagar

Como uma barata faminta e audaciosa

Devorando qualquer tipo de vontade

Deixando para trás uma casca inerte

Vazia e cansada para todo o resto

Como um parasita suga e destrói

Sem remorso ou alegria

É como um câncer na alma

Um estigma no coração

Nunca cessará e nunca partirá

Instala-se como febre eterna

Assola com sua queimação o amor

Alimenta o ódio com a injustiça

E se a cicatriz marca sua pele

Profunda demais para se curar

Desista e deite-se perdido para sempre

Não procure por esperança

Pois ela dura um ínfimo segundo suficiente

Para fazer seus olhos se partirem e

Um grito estrangulado abrir caminho

Rasgando sua garganta e seu espírito

Ecoará pela eternidade

Assustando criancinhas rezando no escuro

Arrepiando a pele de homens castigados

A ouvir talvez pela primeira e última vez

A representação mais pura do derradeiro desespero

Originado de um engano e terminado em um acerto