Eu sou uma pintura desbotada
Eu sou uma pintura
Mas uma daquelas desbotada
Sabe, com traços turvos, com tinta descascada
Com marcas de dedos sujos por tanto ser tocada
Por sorte, não estou desmantelada
Não, as bordas seguem impecáveis
Chega a ser engraçado
A moldura poderia ser confundida com ouro
Mas o retrato pintado, bem, é tinta barata
Não me entenda mal
Posso ser esquecida, isolada
Posso ate ser aquela pintura que ninguém busca mais nada
Depois de tantos e tantos anos sendo observada
Mas há uma relíquia em toda essa velharia
Tá, não tão velha assim
Só alguns anos de construção
Sabe o que é, as peças quanto mais velhas, mais encontram recordação
No fim, sim, sou uma pintura desbotada
Mas não há valor nem qualquer equação
Sou a pintura da minha imaginação
De abstrato até surreal, de realista a peça banal
Eu sou uma pintura desbotada
Que a cada nova espiada
Me transformo em outra interpretação