OS ESPELHOS SÃO PORTAIS?

Cheguei há pouco da rua,

Onde estive até bem pouco.

Altas horas.

Há um grito mudo na escura noite.

Não há luz apesar das lâmpadas.

Ninguém ouve o meu lamento.

Soluços secos me abafam a garganta.

As lágrimas secaram.

O coração, partido,

Bate em descompassado desespero.

Nada me consola,

Nem mesmo o copo, já vazio,

À espera que as minhas mãos trêmulas

O encham mais uma vez.

E o gelo, cadê o gelo?

Maldito gelo!

Desgraçado, como o eu de agora,

Virou água!

Miserável!

A madrugada avança penosamente,

Os minutos se arrastam.

O sono não vem.

Mas que sono?!

Faz tempo que ele foi substituído por um torpor

Um torpor entrecortado por sobressaltos na cama

E a causa são as doídas lembranças que me dilaceram

Já não me reconheço no espelho da cabeceira

Os espelhos são portais?

Quero ir embora!

Desaparecer num deles!

Mark Rebew
Enviado por Mark Rebew em 23/10/2021
Reeditado em 24/10/2021
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