na décima-primeira estação (quanto de você se foi ao longo do ano que se foi?)

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na décima-primeira estação

avista-se a retrospectiva

saldos somam-se a promessas

rascunhos

dos planos

sepultados

dos sonhos

desgarrados

da esperança de um digno amanhã

 

o desembarque é logo ali

na estação repleta de luzes

músicas

cores vibrantes

passos determinados

olhos vidrados

o melhor presente a se ganhar

seria aquele que não se pede

 

esboços de cartas

jamais entregues

insônias filósofas

acúmulos

vícios obsoletos

a rotina é sua escravidão

queixumes não revolucionam

padece à acomodação

 

minimize a bagagem

observe a própria silhueta

enquanto olha de soslaio

para o vidro espelhado

aguarda o sinal abrir

e perde-se na multidão

determinada a não perder a hora

nem o pôr-do-sol

 

anteontem era fevereiro

as ilusões em cacos

machucavam as solas dos pés

na incerteza de abril

observava outro arranha-céu

tomar conta do espaço vazio

eles nunca alcançarão a lua

a onda de frio

pontua um novo ciclo

do meio para o fim

 

na décima-primeira estação

o sol se põe perto das sete

guirlandas já estão penduradas

faltam as provas finais

o ritmo não desacelera

perto de assoprar as velas

não pede muito

aliás, o que pede

parece tão simples

se dependesse do querer dela

não querer

amar alguém

que sempre se vai

todos se vão

por que não amar-se?

 

- quanto de você se foi ao longo do ano que se foi?

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 02/11/2021
Reeditado em 07/01/2022
Código do texto: T7377033
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